Pesquisa apresentada em fórum da revista Educação
aponta que apenas metade dos estudantes declaram gostar de estudar; no
ensino médio, porcentagem é ainda menor
Gestores assistem à apresentação de pesquisa sobre os desejos e visões das crianças e adolescentes, no Fórum Revista Educação |
O imaginário popular já diz: criança não gosta de estudar. Para
desvendar essa e outras questões sobre o que pensam e querem as crianças
e adolescentes, a Multifocus Inteligência de Mercado realizou uma
pesquisa com 507 estudantes de escolas públicas e privadas de ensino
fundamental e médio, em 12 capitais brasileiras. O resultado? Apenas
metade dos jovens brasileiros entrevistados declarou gostar de estudar.
Segundo a pesquisa, apresentada no Fórum "Como (re) construir a escola
do século XXI", promovido pela revista Educação, com o apoio do UNO
Internacional, em parceria com a Corus Consultores e a Perello Sociedade
de Advogados, os alunos do município de São Paulo são os que menos
gostam de estudar: apenas 37%.
Já a diferença entre os estudantes das redes pública e privada é
mínima. Na média Brasil, 52% dos alunos de escolas públicas declararam
ter gosto pelos estudos, enquanto na rede particular o número foi de
51%. Em São Paulo, a diferença cresce um pouco, sendo 38% as crianças e
jovens da rede pública que gostam de estudar, contra 33% da rede
privada. Nota-se, no entanto, que com o passar dos anos o gosto pelo
estudo diminui entre os alunos. 56% das crianças de ensino fundamental
declararam que gostam de estudar; já no ensino médio, esse número cai
para 42%. A pesquisa completa pode ser vista aqui.
Desoneração
Outro tema debatido na última terça-feira (4), durante o Fórum
Revista Educação, foi a desoneração da folha de pagamento de escolas
particulares. A discussão, que já foi levada ao Congresso Nacional pela
Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), teve início com uma
Medida Provisória que permite a alguns setores da economia, como o
têxtil, o de pães e massas, call center e equipamentos médicos, entre
outros, substituírem a contribuição ao INSS de 20% da folha de pagamento
por uma contribuição baseada em alíquotas de 1% ou 2% sobre a receita.
Fernando Barão, da Corus Consultores, questionou os presentes: "quais
as razões da educação não ter sido beneficiada, mesmo tendo uma
importância estratégica maior que os outros setores?" Para ele, além de
não existir uma articulação grande do setor educacional, o problema está
na origem da política de desoneração. "A política visa aumentar o PIB e
conter a inflação, por isso a indústria é uma das mais beneficiadas",
argumenta. Veja aqui
a apresentação de Fernando Barão sobre a política de desoneração. Os
efeitos do aumento das cotas para 50% nas universidades públicas também
foi objeto de debate no fórum, em apresentação do economista Fernando
Botelho.
Avaliação
Educar para o Enem ou educar para a vida? Com esse questionamento,
Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação, abriu a mesa
de debates sobre a utilização do exame como principal parâmetro para a
formação dos estudantes. Priscila ressaltou três pontos determinados
pela própria Constituição Federal: a educação deve visar o
desenvolvimento pleno da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho. "O Enem não contempla tudo
isso. Ele avalia apenas um recorte das habilidades cognitivas dos
estudantes", explica.
Pablo Doberti, diretor do Uno Internacional, acredita que há uma
preocupação excessiva das escolas em relação ao exame. "O sistema
educacional hoje vive obcecado pelo Enem e pelos vestibulares", destaca.
Pablo Doberti, Priscila Cruz, José Pacheco e Eugênio Cordaro: educar para o Enem ou para a vida? |
Já José Pacheco, educador e ex-diretor da Escola da Ponte, em
Portugal, questiona a própria existência do Enem. "O que esse exame
avalia? Ele é uma avaliação mesmo ou apenas classificação?", pergunta. O
educador português defende a extinção das provas das escolas.
Atualmente ele participa do Projeto Âncora, em Cotia, que mantém uma
escola inspirada no modelo da Escola da Ponte. Ele garante que seus
alunos são avaliados, mas não por meio de provas.
Na opinião de Pacheco, o Enem serve apenas para medir a capacidade de
memorização a curto prazo dos estudantes. O educador também faz
críticas às avaliações de larga escala aplicadas no país, como a Prova
Brasil, e discorda da adoção do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb) como uma medida de qualidade educacional.
"Nós temos hoje um excesso de diagnóstico, mas fazemos muito pouco
com os resultados", concorda Priscila Cruz. No entanto, ela discorda do
educador português em relação à extinção das provas e ao uso do Ideb. "A
criança tem que aprender a fazer prova, porque querendo ou não ela vai
se deparar com essa situação ao longo da vida", opina. Quanto ao Ideb,
ela acredita que o índice foi um dos propulsores para a melhora, ainda
que tímida, de muitas redes. "Acho que temos que repensar as avaliações e
ter uma visão crítica em relação a elas, mas não radicalizar e acabar
com tudo", ressalta.
Fonte: Revista Educação